domingo, 2 de outubro de 2016

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV


"«Trabalhar segundo as leis da sabedoria e os métodos do amor – é este o programa», dizia o Mestre Peter Deunov. A sabedoria indica-nos o ideal que devemos procurar alcançar; é um programa grandioso que nos ocupará para sempre. E, para realizarmos esse programa, devemos adotar os métodos do amor, vivendo cada minuto conscientemente, com muita atenção. As leis representam os pontos fixos segundo os quais devemos dirigir-nos e os métodos são os instrumentos de trabalho. Os métodos do amor permitem-nos realizar os objetivos grandiosos da sabedoria. Engana-se quem pensa que consegue obter a sabedoria descurando o amor: ficará seco e acabará por desfazer-se em pó.
Os métodos do amor são numerosos. Eles permitem-nos fazer, em primeiro lugar, trocas com toda a natureza, pela respiração, pela nutrição, pela contemplação do nascer do sol…; depois, trocas com os seres humanos, manifestando a bondade, a generosidade, a paciência…; e, finalmente, trocas com o mundo divino, pela meditação, pela oração e pela contemplação."

"Enquanto estivermos na terra, teremos de enfrentar todas as manifestações do mal; é inútil tentar suprimi-lo, não conseguiremos, e não nos compete fazê-lo. A nossa tarefa é estarmos vigilantes e reforçarmo-nos. Se há pessoas más e espíritos maus, é porque o Criador aceita a sua existência, e nós também devemos aceitá-la. Eles têm o direito de tentar prejudicar-nos e nós temos não só o direito, mas também o dever, de nos proteger do perigo. Se não nos protegermos, seremos suas vítimas, e só deveremos queixar-nos de nós.
Vós direis: «Mas eu confio-me a Deus, eu amo-O. Por isso, Ele proteger-me-á.» Não! Se não souberdes discernir de onde pode vir o mal, mesmo o vosso amor a Deus não vos salvará. Deus dir-vos-á: «Amas-me? Muito bem. Mas, por que é que queres que seja eu a fazer todo o trabalho?» Nem o vosso amor, nem todas as vossas qualidades, vos porão a salvo se, pelo menos, não tiverdes aprendido a abrir os olhos para reconhecer de onde vem o perigo."

"Periodicamente, é bom que cada um faça uma pausa, a fim de passar em revista a sua vida. Porquê? Porque, muitas vezes, dia após dia, as pessoas ficam cada vez mais pesadas, ficam obscurecidas, por causa de toda a espécie de preocupações e de atividades que se somam umas às outras sem nada trazerem à alma e ao espírito. Influenciadas pela atmosfera ambiente, as pessoas esquecem-se de que ficarão muito pouco tempo na terra e de que terão de deixar aqui todas as suas aquisições materiais, os seus títulos, a sua posição social.
Vós direis: «Mas todos os humanos sabem que estarão na terra por pouco tempo.» É verdade que eles sabem isso, mas, muitas vezes, esquecem-no. E até o discípulo de uma Escola Iniciática é influenciado: fica menos vigilante, deixa-se obnubilar pelo espetáculo das riquezas e dos sucessos que o rodeiam. Por isso, é indispensável que, de vez em quando, ele pare para olhar para trás e analisar a direção que está a seguir, as atividades em que está a envolver-se. E, de cada vez, deve fazer uma triagem para deixar ficar só o essencial!"

"Não tenteis lutar contra a força sexual, pois não só não conseguireis vencê-la, como será ela a deitar-vos por terra. O único meio para a dominar é encontrar um aliado, um associado muito poderoso para o qual orientareis essa força e a quem a consagrareis. Ele é que, graças ao seu saber alquímico, conseguirá transformá-la em luz, em saúde, em beleza.
E que associado é esse? Um alto ideal, um ideal sublime com o qual viveis, que acarinhais, que alimentais. Só esta ideia é capaz de transformar as vossas energias, vós não conseguis. Se, no momento em que sentis um impulso sexual que quereis dominar, vos concentrais no vosso ideal, essa energia sobe para o cérebro e alimenta-o. Alguns minutos depois, venceis esse impulso, e não só ficais libertos, como vos sentis reforçados e inspirados. Se vos habituardes a fazer convergir todas as vossas energias para um ideal divino, essas energias, em vez de vos dominarem, ficarão ao vosso serviço e contribuirão para a realização do vosso ideal."

"Está escrito nos Salmos: «Os justos crescem como a palmeira.» É uma imagem magnífica. Mas, como devemos interpretá-la?
A palmeira é uma árvore que cresce nas areias do deserto, onde o sol queima atrozmente e a água é muito, muito rara. Contudo, a palmeira diz: «Eu vou mostrar o que sou capaz de fazer nas piores condições» e oferece as suas tâmaras, que são mais açucaradas e mais doces do que qualquer outro fruto. A palmeira é, pois, um alquimista: transforma a areia em açúcar. Pelo contrário, um arbusto como a ameixeira brava, mesmo plantado num solo muito rico, bem regado e com um clima favorável, só consegue produzir frutos amargos, impossíveis de comer.
Há tantas pessoas semelhantes à ameixeira brava! Beneficiam das melhores condições, mas não sabem tirar partido delas. E não só não produzem nada, como estão sempre a queixar-se de que lhes falta qualquer coisa. Ignoram as riquezas que existem nelas e como podem utilizá-las. Essas pessoas devem meditar sobre a imagem da palmeira, que, nas piores condições, consegue dar frutos deliciosos."

"Vós olhais para um rosto, um objeto, uma paisagem… Tendes consciência daquilo que, então, se passa em vós? Pensastes até que ponto esse ato de olhar é vasto, profundo e significativo? Ele parece simples, sem mistério, mas procurai estudá-lo melhor e descobrireis que ele tem uma dimensão mágica.
Pousais o vosso olhar num objeto… A partir desse momento, ele representa um perigo que vos espreita ou uma felicidade que vos espera. Isso depende da sua natureza, da sua forma, das suas radiações, e também do vosso estado interior, pois todo o vosso ser tende a assumir a forma, as dimensões e as qualidades desse objeto. Interiormente, no plano psíquico, quer isso seja consciente, quer não, vós começais a assemelhar-vos àquilo para que olhais. É uma lei natural, biológica. E depende desta lei, bem compreendida e aplicada, a vossa possibilidade de evoluir, de vos aperfeiçoardes. Por isso, habituai-vos a pousar o vosso olhar em tudo o que é belo, harmonioso, luminoso, perfeito."

"Um sábio estava no seu jardim a colher frutos. De súbito, ouviu barulho e viu um homem a correr: «Aonde é que vais tão apressado? – perguntou-lhe. – O meu vizinho vem a perseguir-me com uma espingarda, convencido de que fui eu que pus fogo no seu celeiro. – Vai-te embora depressa. Eu trato disso.» Chega o outro homem: «Aonde vais a correr dessa maneira? – perguntou-lhe o sábio. Estás sem fôlego. Senta-te por um instante. – Não, tenho de apanhar um indivíduo que pôs fogo no meu celeiro. Vou dar-lhe um corretivo de que ele se lembrará durante toda a vida. – Oh, ele já deve ir longe neste momento. Olha para estes frutos: são deliciosos! Senta-te e prova-os.» O homem acaba por sentar-se, regala-se com os frutos, e o sábio leva-o também a admirar as flores e as árvores do jardim, o céu azul, etc. Esta pequena paragem altera o seu humor, ele renuncia a perseguir o vizinho e propõe mesmo ao sábio ajudá-lo a colher os seus frutos.
Vós direis que esta é uma história inverosímil. Nem por isso… O sábio tinha consciência de que, se se atravessasse no caminho do homem colérico, dizendo-lhe: «Para! Não vale a pena correres assim», o outro ter-lhe-ia dado um empurrão, sem querer ouvir nada, e ele teria sido obrigado a usar a força. Então, o que fez ele? Desviou a sua atenção, oferecendo-lhe frutos. Para impedir os humanos de fazerem mal, é preferível tentar que eles canalizem as suas energias noutra direção."

"Comungar é poder entrar em contacto com todas as criaturas e todas as forças que animam as pedras, as plantas, as montanhas, as nascentes, o sol, as estrelas.
Quando, em memória da Ceia, da última refeição que Jesus tomou com os seus discípulos, os cristãos recebem o pão e o vinho, eles chamam a isso a “santa comunhão”. Mas receber o pão e o vinho, ou receber a hóstia, não basta para se comungar verdadeiramente. Comungar é ser capaz de entrar em relação, pelo amor e pela sabedoria, com a vida divina no universo. No dia em que dermos à comunhão a sua verdadeira dimensão, uma dimensão cósmica, poderemos dizer que comemos a carne do Cristo e bebemos o seu sangue. Em todas as regiões do nosso ser, sentiremos circular correntes de energias abundantes e puras, e saberemos que é isso a vida eterna, que não tem começo nem fim."

"O espaço não é algo vago e indefinido, obedece a uma estrutura que corresponde ao número 4: os quatro pontos cardeais. Ora, o que são os quatro pontos cardeais senão uma cruz? O Iniciado que vai começar um trabalho vira-se sucessivamente para cada uma das quatro direções do espaço: traça, assim, uma cruz para indicar que o seu espírito vai entrar em atividade. A cada um dos quatro pontos cardeais preside um arcanjo: ao este, Miguel; ao oeste, Gabriel; ao norte, Uriel; e ao sul, Rafael. É porque o Iniciado compreende a cruz viva, que todas as entidades luminosas respondem ao seu apelo e vêm participar no seu trabalho.
O rito que consiste em virar-se para os quatro pontos cardeais perpetuou-se na religião cristã sob a forma do “sinal da cruz”. Quando o cristão leva a mão direita, sucessivamente, à testa, ao plexo solar, ao ombro esquerdo e ao ombro direito (ou o inverso: ao ombro direito e depois ao ombro esquerdo), pronunciando: «Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ámen!», entra em contacto com as quatro direções do espaço. O espaço é a matéria sobre a qual ele trabalha por intermédio do seu pensamento e do seu amor."

"As pessoas têm curiosidade em conhecer o seu futuro… É natural, mas, para isso, não é necessário irem consultar clarividentes: é muito fácil conhecer o seu futuro e eu posso demonstrar-vos isso. O que vos direi não vos dará informações sobre os encontros que tereis em breve, os ganhos ou as perdas de dinheiro, as doenças, os acidentes, os sucessos… Mas, que importância tem isso? O importante, para vós, é saberdes se avançareis, ou não, no caminho da evolução, se sereis livres, se vivereis na luz e em paz… E isto é muito fácil de descobrir. Se gostais de tudo o que é nobre, justo e belo, se trabalhais com o vosso coração, o vosso pensamento e a vossa vontade, plenamente, para alcançar e realizar aquilo de que gostais, o vosso futuro já está traçado: um dia, vivereis nas condições que correspondem às vossas aspirações, ao vosso ideal.
É isto que é essencial conhecerdes em relação ao vosso futuro. Tudo o resto é secundário, pois pode ser-vos dado e tirado. Quando deixardes a terra, só ficareis, verdadeiramente, com o que fizestes para corresponder às aspirações da vossa alma e do vosso espírito."

"É quando têm de passar por provações, quando sofrem, que os crentes mais se questionam sobre Deus, a sua existência, a sua vontade… E, sobretudo, se Ele virá socorrê-los. Muitos queixam-se de que não recebem resposta nem ajuda. Porquê? Porque colocam estas questões como se Deus fosse um ser totalmente exterior a eles. Quando compreenderem que Deus habita neles e quando, ao passarem por todas as provações, persistirem em se ligar a Ele, sentir-se-ão guiados, com ideias claras, apoiados.
É frequente aqueles que sofrem sentirem-se sós, abandonados por todos. Então, por que é que hão de ainda perder, por negligência, por ignorância, a única ajuda, o único conforto verdadeiro, que podem receber? E encontram essa ajuda e esse conforto na presença de Deus neles. Quando oram, eles não se dirigem somente ao Criador do céu e da terra, um Ser tão distante que nem sequer se consegue concebê-l’O, mas a um poder que habita neles próprios e com o qual nunca devem perder o contacto."

"Vós comeis alguns frutos e esses alimentos, uma vez digeridos e assimilados, contribuem para o bom funcionamento do vosso organismo. Que Inteligência é essa que encontrou maneira de levar a cada órgão do nosso corpo aquilo de que ele necessita para podermos continuar a viver?... Como não ficar admirado com ela? Graças a esses alimentos, vós podeis continuar a ver, a ouvir, a respirar, a saborear, a tocar, a falar, a cantar, a caminhar. E eles serão proveitosos até para os vossos cabelos, para as vossas unhas, para os vossos dentes, para a vossa pele, etc. Sim, como é possível não se ficar tomado de admiração perante tal Inteligência? De agora em diante, deveis pensar mais nela e manifestar-lhe mais o vosso reconhecimento.
O que é essencial nos alimentos não é a matéria de que são constituídos, mas as energias que eles contêm, a quintessência aprisionada neles, pois é nela que está a vida. A matéria dos alimentos é apenas um suporte. Por intermédio desta matéria, é, pois, a quintessência que nós devemos procurar recolher, para alimentarmos também os nossos corpos subtis. Considerar que comemos apenas para alimentar o nosso corpo físico é um erro: nós comemos para alimentar também o nosso coração, o nosso intelecto, a nossa alma e o nosso espírito."

"Observai a natureza e descobrireis que ela está sempre a apresentar-nos métodos para resolvermos os nossos problemas. Por exemplo: como é que a ostra faz para fabricar uma pérola? Um grão de areia entrou na sua concha e tornou-se uma dificuldade para ela, irrita-a. «Ah, diz ela, como é que eu vou livrar-me deste grão de areia? Ele incomoda-me, arranha-me. O que hei de fazer?» A ostra põe-se a refletir, concentra-se… medita! Um dia, começa a segregar uma matéria especial com a qual envolve aquele grão de areia tão desagradável e ele torna-se liso, polido, aveludado. Quando o conseguiu, ela fica contente e diz para si própria: «Não só este grão já não me incomoda, como eu fiz dele uma pérola magnífica!»
É esta a lição da ostra perlífera: ela mostra-nos que, se conseguirmos, pelo pensamento, envolver os nossos aborrecimentos, as nossas contrariedades, com uma matéria luminosa, irisada, acumularemos grandes riquezas. O verdadeiro espiritualista sabe trabalhar sobre as suas dificuldades para fazer delas pérolas muito preciosas."

"Tudo o que vós viveis interiormente tem consequências. Porquê? Porque cada pensamento, cada sentimento, cada desejo, tem a propriedade de atrair do espaço uma matéria que lhe corresponde. Assim, bons pensamentos, bons sentimentos e bons desejos, apoiados por uma vontade firme, atraem partículas de uma matéria pura, eterna, incorruptível.
Trabalhai todos os dias para atrair essa matéria subtil do espaço. Todas as partículas que assim recolherdes encontrarão o seu lugar em vós e, ao mesmo tempo, expulsarão as partículas sem brilho, gastas, doentias. Será desse modo que regenerareis os vossos corpos físico, etérico, astral e mental. E, como cada partícula de matéria está ligada a uma energia da mesma natureza, quanto mais pura é uma matéria, mais ela vibra e atrai energias do mundo espiritual. Portanto, à medida que substituís, no vosso organismo, partículas de matéria já gastas por novas partículas, mais puras, atraís a vós energias das regiões celestes."

"Por que é que os alquimistas descrevem a transformação da matéria da Grande Obra como uma sucessão de cores? Porque eles observaram essa sucessão na vida vegetal. Observai as árvores de fruto: com algumas nuances, pois a natureza é rica em diferenças, elas passam por uma série de cores sempre na mesma ordem. Durante o inverno, ficam negras e nuas. Na primavera, tornam-se brancas com as flores e verdes com as folhas. Depois, chega o verão: os frutos amadurecem e tornam-se amarelos e vermelhos. E, quando o outono se aproxima, é a folhagem que se torna vermelha e dourada. Com o vermelho e o dourado, o processo termina, é o fim de um ciclo, como na obra alquímica.
À imagem da vegetação, o ser humano deve atravessar interiormente todas as fases da obra alquímica. Ele morre e depois renasce. E renasce com virtudes e poderes novos: novas cores."

"Por que haveis de limitar-vos aos encontros que tendes no plano físico com seres humanos? Há tantos outros seres com quem se encontrar e entrar em relação! Todos os dias, vós tendes a possibilidade não só de vos ligardes às entidades luminosas que povoam o universo, mas também de as atrair até vós. Então, dirigi-vos a elas: «Vinde, vinde, amigos celestes! Instalai-vos em mim como numa morada vossa.» Dirigi-vos ao Senhor, à Mãe divina, à Santíssima Trindade, a todos os Anjos e Arcanjos, servidores de Deus, servidores da luz, e dizei-lhes: «Todo o meu ser vos pertence. Disponde de mim para a glória de Deus, para a vinda do seu Reino e da sua Justiça à terra.»
Com estas palavras de consagração, vós convidais as entidades celestes a virem habitar em vós e colocais-vos sobre a sua proteção. Antes disso, não vos surpreendais se forem outras entidades, nada celestes, que procurem instalar-se em vós, mesmo sem esperarem o vosso convite! É a vós que cabe decidir por quem quereis ser “ocupados”."

"Mesmo as pessoas mais ignorantes sabem que o sangue é um líquido infinitamente precioso e que uma pessoa que perde o seu sangue também perde a vida. Enquanto circula no interior do corpo, o sangue está protegido como num recipiente fechado. Mas, assim que se escapa, por uma razão ou por outra, evapora-se, como qualquer líquido; isto é, desse sangue exalam partículas etéricas, que vão dispersar-se no espaço. Ora, essas partículas são vivas, elas conservaram algo dos elementos que fazem do sangue o portador da vida. Por isso, servem de alimento às entidades invisíveis.
Esta propriedade que o sangue tem de emanar eflúvios, com os quais se alimentam entidades invisíveis, é conhecida desde a mais alta antiguidade. Diz-se de um ferido que ele perde o seu sangue. Ele, com efeito, perde-o, mas como, na realidade, nada se perde no universo, há sempre criaturas que vêm alimentar-se das emanações que se escapam de algumas gotas de sangue. Por isso, se perderdes sangue, não o deixeis secar – ou não o deiteis fora – sem o ter consagrado, pelo pensamento, às entidades luminosas do mundo invisível. Elas saberão como utilizá-lo para o seu trabalho. "

"Todos os anos, no dia 22 de setembro, o sol entra na constelação da Balança, abrindo, assim, um novo período. É o outono, a época dos frutos maduros, que são colhidos; e os cereais são escolhidos a fim de serem comidos ou então guardados para que, mais tarde, sirvam de semente e o ciclo recomece. Mas este trabalho de separação, de triagem, que se faz na natureza, não abrange unicamente a vegetação: ele diz respeito também ao ser humano, pois o outono é o momento da separação de que fala Hermes Trismegisto na Tábua de Esmeralda: «Separarás o subtil do espesso com grande perícia», isto é, com grande cuidado. Separar o subtil do espesso significa separar o espiritual do material. Por isso, o Iniciado, que participa com o seu espírito neste trabalho de toda a natureza, sabe que chegou o momento de deixar morrer a matéria obscura, que ainda resta nele, para assim libertar a verdadeira vida.
E, do mesmo modo que o fruto se separa da árvore, do mesmo modo que o caroço, ou a semente, se separa do fruto, um dia a alma separar-se-á do corpo. O corpo é o invólucro da alma e a alma é a semente que será semeada no alto, no céu. No dia em que o fruto do homem estiver maduro, não volta a cair na terra, como a semente de uma planta; ele voa para o céu."

"Há dois milénios que se repete aos cristãos que Deus é amor, mas terão eles compreendido verdadeiramente o sentido dessas palavras? Dizer que Deus é amor é ter consciência de que Ele deu tudo a todos os seres, sem exceção. Vós sofreis, estais infelizes e pedis a Deus que venha socorrer-vos; pensais que é aqui, agora, que precisais da sua ajuda e que Ele deve responder às vossa orações, isto é, que Ele deve trazer-vos de novo a saúde, resolver as vossas questões, dar-vos amigos, libertar-vos dos vossos inimigos… Mas estais enganados, Deus nada tem a fazer por vós agora, porque Ele já fez tudo. Ao criar o ser humano, Ele previu tudo, Ele deu-lhe tudo, o seu amor deu-lhe tudo, portanto, já nada há a pedir.
Os verdadeiros filhos de Deus são aqueles que nada pedem, pois sabem que já têm tudo. Se reclamardes mãos para trabalhar, pés para caminhar, olhos para ver, isso é ridículo, vós já os tendes, no plano espiritual como no plano físico. Deveis unicamente orar para pedir a luz, que vos mostrará a melhor maneira de os utilizar. "

"A espiritualidade não consiste em menosprezar a matéria, mas em descer a ela, em trabalhar nela para a vivificar, para a organizar. E por “matéria” também se deve entender o corpo físico. Se se descura o corpo físico, com o pretexto de ficar consagrado às nobres funções do intelecto, da alma e do espírito, essas funções também enfraquecerão, pouco a pouco.
Não se deve deixar o corpo físico no estado de uma casa abandonada que acabará por servir de abrigo aos bichos e às aves noturnas. Pelo contrário, o seu proprietário deve ocupar-se muitas vezes com a sua limpeza, a sua manutenção, tornando-o mais ágil, mais vivo. Descer à matéria com esta intenção nunca é uma queda. E é precisamente esta a distinção que é preciso fazer: entre descida e queda. Descer à matéria é uma coisa, deixar-se cair nela é outra. Nós devemos descer à matéria para a animar, para a iluminar, para fazer do nosso corpo uma morada do Deus vivo. "

"Quando se deseja fundar uma família, é-se obrigado a fazer esforços para sair de si mesmo, para se abrir ao outro, marido ou esposa, e, mais tarde, aos filhos. Só que o erro dos humanos é não terem compreendido que deviam alargar ainda mais o círculo da família, estender o seu amor a outras criaturas, a todo o universo. Por isso é que eles ainda não são felizes, mesmo com a sua família e os seus amigos.
A felicidade é não se deter num ser, ou em dois, em dez, em cem…, e amar infinitamente. Continuai, pois, a amar aqueles que já amais, mas alargai o círculo do vosso amor para fazerdes trocas, inclusive, com todas as criaturas superiores: os anjos, os arcanjos, as hierarquias celestes, o Senhor… A vossa família, os vossos amigos, ficarão enriquecidos, reforçados, mais belos, mais puros, por causa de todos esses estados sublimes que, então, vós alimentareis no vosso coração e na vossa alma. "

"Por causa do seu grande poder de absorção, a água, ao circular na terra e na atmosfera, carrega-se de impurezas. Mas a natureza previu certos processos para a sua purificação. Esses processos são de dois tipos. Com o primeiro, a água infiltra-se no solo: aí, na escuridão, ela atravessa diferentes camadas, deixando as suas impurezas por onde passa; pouco a pouco, ela torna-se límpida e clara e, um dia, jorra da terra como água de nascente. O segundo processo é o da evaporação: aquecida pelos raios solares, a água eleva-se na atmosfera, e é tornando-se vapor que ela se purifica. Mais tarde, ela cairá de novo sobre a terra na forma de orvalho, de chuva, e trará a vida à vegetação e a todas as criaturas.
Para os humanos, também existem dois métodos de purificação. Se eles viverem uma vida sem brilho, prosaica, passional, terão de se purificar afundando-se no solo, onde serão submetidos a fortes pressões; isto é, passarão por provações, por sofrimentos. Mas os espiritualistas escolhem conscientemente o segundo método: eles sabem que, expondo-se aos raios do espírito, vão ficar mais leves, elevar-se e impregnar-se com as partículas mais luminosas, que os purificarão e os santificarão."

"No Antigo Testamento, Miguel é o arcanjo que, à cabeça dos exércitos celestes, obtém todas as vitórias. E, no Novo Testamento, em particular no Apocalipse, é ele que, no fim dos tempos, deita o dragão por terra.
Também está escrito que, quando Moisés morreu, o diabo quis apoderar-se do seu corpo e foi o arcanjo Miguel que se opôs a ele para lho tirar. Há inúmeros quadros e ícones que representam este arcanjo com uma balança na mão, pesando os atos dos humanos após a sua morte: num prato acumulam-se as suas boas ações e, no outro, as más. Entretanto, o diabo está ali, pronto a arrastar o homem para o seu reino infernal, e fica furioso, range os dentes, quando vê o arcanjo Miguel acrescentar no prato uma última boa ação que fará pender a balança para o lado do bem e da salvação.
A festa de São Miguel situa-se no signo da Balança, no começo do outono. O outono é a estação das colheitas: apanham-se os frutos, deita-se fora os que estão estragados e guarda-se os que estão sãos. Jesus dizia que se reconhece os homens pelos seus frutos. De certo modo, podemos ver em cada colheita uma forma de julgamento. "

"O ser humano caracteriza-se pelo facto de ter consciência, mas ele só está plenamente consciente quando desperta para as noções de coletividade, de universalidade. Esta faculdade permite-lhe entrar na alma e no coração dos outros, ao ponto de, quando os faz sofrer, sentir as mesmas dores que lhes inflige. Ele sente, compreende, que tudo o que faz aos outros, tanto o bem como o mal, é a si mesmo que o faz. Aparentemente, cada ser está isolado, separado dos outros; mas, na realidade, uma parte dele mesmo está ligada à coletividade e vive em todas as criaturas, em todo o cosmos.
Se esta consciência coletiva estiver desperta em vós, sentireis, nas vossas relações com os outros, que os vossos pensamentos, os vossos sentimentos, as vossas palavras, os vossos atos, voltam todos a vós como que em eco, pois o vosso ser, tendo-se estendido até às dimensões do universo, tornou-se uma entidade coletiva. É a este estado de consciência que se pode dar o nome de sentimento fraternal. "